terça-feira, 21 de julho de 2009

Ações culturais da Ação da Cidadania

João Guerreiro, Coordenador de ações culturais da Ação da Cidadania.

Um bilhão de pessoas. A projeção apresentada ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) rompe mais do que uma barreira simbólica: mais de 15% da população mundial sofrerão de desnutrição neste ano. Segundo o relatório, o grande vilão da vez é a crise financeira mundial, e seus impactos nos índices de crescimento da economia global.Segundo a FAO, a produção de alimentos teve um aumento considerável desde 2006 (24%) devido à elevação da demanda nos países desenvolvidos. E, para alguns analistas, a entrada no cenário mundial de 1 bilhão de consumidores chineses teria sido a gota d'água. Mas, há contradições: como um sexto da população pode estar desnutrida – número superior ao encontrado em 2008 – enquanto a produção de alimentos vem aumentando?A questão parece ser mais complexa e de ações de curto, médio e longo prazos. As raízes do aumento da fome no mundo estão muito mais atreladas à falta de renda das famílias do que a uma suposta escassez de alimentos. A concentração de praticamente todos os subnutridos em países em desenvolvimento, conforme informa o relatório, aponta para a necessidade de implementação de políticas estruturais de erradicação da miséria.Mas, emergencialmente, os organismos internacionais multilaterais precisam assumir a gravidade da situação, traçar ações coordenadas e intensificar a ajuda aos países em desenvolvimento, seja com recursos e alimentos, seja com investimento/financiamento em tecnologia para produção de alimentos.Nós podemos ajudar! Há 16 anos o nosso saudoso Betinho afirmava: "Quem tem fome tem pressa". Após uma luta incansável junto com outras instituições da sociedade civil, observamos a implementação de políticas públicas emergenciais de combate à fome no Brasil e os resultados na diminuição da desigualdade de renda. Hoje discutimos quais são as modificações estruturais necessárias para cortar o efeito entre as gerações do ciclo da miséria.Ao lado da crise econômica mundial temos, ainda, os efeitos das mudanças climáticas globais (quem teve a oportunidade de ver, no último dia 5 de junho, o lançamento simultâneo em mais de 50 países do filme Home – Nosso planeta, nossa casa, pôde perceber os impactos do aquecimento climático nas diversas regiões do planeta. Estas mudanças criam o aumento das áreas desertificadas – segundo a ONU, 41% do território mundial em 2006 eram formados por áreas secas. Essas regiões abrigam 2 bilhões de habitantes!A agenda está colocada: políticas emergenciais de distribuição de alimentos sob coordenação dos órgãos multilaterais, financiamento de tecnologia agrícola e um novo padrão de desenvolvimento que agregue sustentabilidade e distribuição de renda.
Artigo publicado no JB sábado, 20 de Junho de 2009.