sexta-feira, 26 de agosto de 2011

25/08/2011 15:30:04




Prepotência e silêncio


Lincoln de Abreu Penna*


 
As universidades no Brasil refletem um fenômeno que é mundial, mas que entre nós tem assumido um caráter mais perverso, a combinar os atos e atitudes de prepotência com o silêncio obsequioso dos que não querem se incomodar, voltados que estão a seus afazeres docentes. Essa dupla conjugação tem nos levado a situações cada vez mais desastrosas para a vida universitária, de modo a influir decisivamente no comportamento dos estudantes e das gerações mais jovens de docentes, a exibirem com vaidade os resultados de suas pesquisas e a quantificarem o número de vezes que seus ensaios são publicados e citados pelos colegas.
 
A importância desmedida concedida aos números de participações em eventos e no atendimento às exigências da vida acadêmica, se por um lado revela o quanto se avançou na busca de uma atividade regular nos meios universitários, por outro lado tem levado a uma perigosa evasão da realidade, como se as contravenções nos diversos campos da sociedade e também dos dirigentes das comunidades universitárias fossem irrelevantes diante do objetivo principal, isto é, os resultados dos projetos de pesquisa. Com isso, se cultiva o desprezo por tudo que diz respeito à vida das coletividades, algo como um comportamento esquizóide no qual só é levado em conta o que se faz com vistas à obtenção de reconhecimento de mérito, centrado apenas em si.
 
Em nosso meio acadêmico a vaidade é, seguramente, componente inerente aos seus membros. Há, no entanto, a vaidade como um sentimento de orgulho próprio pelo que podemos fazer em benefício dos outros, sobretudo dos mais necessitados, refletindo sobre os seus destinos e os destinos das comunidades em geral; e a vaidade que se manifesta na excessiva valorização do eu, profundamente indiferente em relação aos outros. Desse modo, temos no primeiro caso a prevalência do altruísmo. No segundo, a presença de um tipo de narcisismo absolutamente inaceitável porque marcado pela vaidade em si, a semear o individualismo egoísta dos que se propõem unicamente a exaltar o exercício egocêntrico junto a todos com quem se convive, num ambiente cuja vocação deveria ser o da comunhão fraternal, próprio a uma comunidade de destino.
 
Por que esse fenômeno está a ocorrer entre nós com tanta frequência? Há pelo menos duas explicações que se entrelaçam. Uma de natureza mais geral, e tem a ver com o advento de uma etapa mais agressiva e ao mesmo tempo mais caótica do capitalismo em sua fase neoliberal, responsável pelo desprezo de valores sociais. O outro se situa na nossa realidade histórica e cultural, a exibir a simbiose do conservadorismo produzida por nosso passado colonial e reafirmada mais modernamente no estágio neocolonial de nossa formação social, com a acomodação que tem nos conduzido a adiar as soluções radicais, tais como as transformações substantivas de nossas estruturas. Ao abdicar desta tarefa, os docentes têm reproduzido valores distantes dos compromissos de fazer de suas ocupações instrumento de real intervenção na vida dos cidadãos.

E qual é o papel das universidades, como comunidades destinadas à reflexão, produção e difusão do conhecimento enquanto erudição do patrimônio da humanidade e de criação de novos saberes? Instigar e incomodar o que se tem como sabido. Preservar, contudo, os valores caros à humanidade, porque estes são permanentes e definem o que entendemos como direitos inalienáveis do ser humano, tais como as liberdades, em seus mais variados sentidos, principalmente o sentido da libertação. E isso se faz dentro de normas de respeito a opiniões divergentes, porque, além da liberdade como libertação – só possível nos ambientes democráticos –, é preciso cultivar a ideia de que é no ambiente universitário que se deve praticar o encontro das diferenças, do contraditório em busca do novo, mesmo que para tanto as contradições gerem conflitos, e os conflitos, confrontos, porque só assim estaremos desenvolvendo a democracia.

Essa digressão decorre de fatos que vêm se acumulando nos meios universitários a envolver mandos e desmandos de colegas detentores de cargos e mandatos em suas Instituições de Ensino Superior (IES). Quase sempre a adotarem decisões arbitrárias ou excessivamente centralizadas, as quais invariavelmente descambam para uma prepotência de estirpe, porque centrada em argumentos de autoridade. Ao manipular os órgãos colegiados ou simplesmente desprezá-los, essas atitudes têm se reproduzido tanto nas IES particulares quanto públicas. E a democracia que invocam, ou está baseada no controle desses colegiados, ou na referência meramente a decisões institucionais.
 
Essas condutas, além de intoleráveis, atingem o centro nervoso das IES, porque as tornam verdadeiras empresas ou repartições voltadas exclusivamente para o funcionamento harmonioso de seus quadros funcionais. Criam e recriam profissionais zelosos pelos seus trabalhos, submetidos a constantes verificações, e inibem as manifestações de descontentamentos tidas como impertinentes às atividades desses centros orgânicos de produção. Tudo o que escapa à normalidade dos funcionamentos previsíveis é, por princípio, condenado, ou pelo menos visto com os reparos angustiados dos zelosos cumpridores das expectativas institucionais. As vozes dissonantes costumam ser objeto de censura quando não de repressão simbólica ou mesmo efetiva, subtraindo-as do ambiente por serem corrosivas ao bom andamento da pax acadêmica.

É preciso reagir ao marasmo, à indolência, à acomodação, ao silêncio comprometedor que se espraia nos campi universitários, sob pena de sermos cúmplices dessa mesmice, mesmo sendo críticos em relação ao que se passa nos meios acadêmicos. Para tanto, torna-se imperioso que se constituam núcleos de debate aonde for possível constituí-los, para a introdução de uma prática de contestação aos abusos, e a toda sorte de violência que ocorra. Mas não apenas núcleos destinados a identificar esses atos, mas que tenham por objetivo criar espaços de debates e de germinação de ideias novas a serem exercitadas com vistas a democratizar a democracia formal existente.

Democratizar a democracia formal consiste basicamente em fazer aprofundar a essência do sentido de democracia. E isto só se consegue fazendo, discutindo, questionando o que existe, por vezes até transgredindo as normas que se considerarem obsoletas ou restritivas ao bom desenvolvimento dos processos de libertação. Essas condutas não precisam e nem devem adotar meios violentos, senão a palavra e a força das ideias, instrumento básico e eficaz para fazer valer as concepções inovadoras e libertárias. Porque a democracia não é um produto fechado e limitado ao sabor dos interesses meramente institucionais avessos ao contraditório. Deve ser um processo que se alimenta na discussão dos contrários e cresce na medida em que se contestam os limites de sua existência.

Nesse sentido, a democracia é sempre um vir-a-ser, aquela utopia que se corre atrás e se tem a sensação de que jamais a alcançaremos. O objetivo, todavia, não é necessariamente alcançá-la em sua plenitude, mas continuar a persegui-la sem cessar. Esta é a luta dos que desejam uma democracia radical com vistas a uma sociedade de iguais.

* Lincoln de Abreu Penna é professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demitido arbitrariamente do Programa de Mestrado em História da Universidade Salgado de Oliveira (Universo).




quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Aprendizagem Significativa

David Paul Ausubel

TEORIA DE AUSUBEL
Aprendizagem
Cognitiva - armazenamento organizado de informações
Afetiva - sinais internos do indivíduo (prazer, dor, ansiedade)
Psicomotora - repostas musculares (treino e prática)
Ausubel focaliza principalmente a aprendizagem cognitiva
Aprendizagem = organização e interação do material na estrutura cognitiva (conteúdo total de idéias de um indivíduo e sua organização)
Ausubel preocupa-se com a aprendizagem que ocorre na sala de aula da escola. O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe.
Para que ocorra a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo, funcionando como ponto de ancoragem.
Processo de interação = conceitos mais relevantes e inclusivos interagem com o novo material funcionando como ancoradouro (abrangendo e integrando esse material e modificando-se em função dessa ancoragem).
Aprendizagem Significativa - conceito central de sua teoria
  • processo através do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Ou seja, a interação da nova informação com uma estrutura cognitiva específica ( conceito subsunçor< subsumer)
  • a aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes na estrutura cognitiva do indivíduo.
  • o armazenamento de informações no cérebro é altamente organizado formando uma hierarquia na qual elementos mais específicos de conhecimentos são ligados ( = assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos.
  • Estrutura cognitiva = estrutura hierárquica de conceitos que são representações de experiências sensoriais do indivíduo
Aprendizagem Mecânica ( automática)
  • aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma associação a conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva
  • a informação é armazenada de maneira arbitrária, não há interação entre a nova informação e aquela já armazenada, fica arbitrariamente distribuído na estrutura cognitiva sem ligar-se a conceitos subsunçores específicos.

Aprendizagem significativa pode acontecer por:
  • recepção - o conhecimento é apresentado em sua forma final para o aprendiz
  • descoberta - o conhecimento deve ser descoberto pelo aprendiz. Depois de descoberto, a aprendizagem é significativa se o conteúdo ligar-se a conceitos subsunçores relevantes existentes na estrutura cognitiva.
De onde vêm os subsunçores?
  • a aprendizagem mecânica e significativa são processos continuum. Quando um indivíduo adquire informações em uma área completamente nova ocorre a aprendizagem mecânica até que alguns elementos de conhecimento , relevantes a novas informações na mesma área, existam na estrutura cognitiva e possam servir de subsunçores ainda que pouco elaborados. À medida que a aprendizagem vai se tornando significativa os subsunçores se tornam mais elaborados e prontos para ancorar novos conhecimentos.
  • em crianças pequenas, a formação de conceitos acontecem através de um processo conhecido como "formação de conceitos",que envolve generalizações de instâncias específicas. Em idade escolar, a maioria das crianças já têm desenvolvido um conjunto de conceitos que permite a aprendizagem significativa. A partir daí, os novos conceitos são adquiridos através de assimilação, diferenciação progressiva e reconciliação integrativa de conceitos.
Ausubel recomenda o uso de organizadores prévios que sirvam de âncora para a nova aprendizagem e levem ao desenvolvimento de conceitos subsunçores que facilitem a aprendizagem subsequente .
Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados antes do material a ser aprendido em si. Sua principal função é de servir de ponte entre o que o aprendiz já sabe e o que ele deve saber a fim de que o material possa ser aprendido de forma significativa. Facilitam a aprendizagem na medida em que funcionam como "pontes cognitivas".
Condições de ocorrência da aprendizagem significativa:
Segundo Ausubel (1978,p.41), " a essência do processo de aprendizagem significativa é que idéias simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira substantiva ( não literal) e não arbitrária ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente relevante para a aprendizagem dessas idéias. Este aspecto especificamente relevante pode ser, por exemplo, uma imagem , um símbolo, um conceito, uma proposição, já significativo".
  • material a ser aprendido seja relacionável, incorporável à estrutura cognitiva do aprendiz de maneira não arbitrária e não literal. Material potencialmente significativo.
  • o aprendiz deve manifestar disposição para relacionar de maneira substantiva e não arbitrária o novo material, potencialmente significativo, a sua estrutura cognitiva
Evidência da aprendizagem significativa
evitar a "simulação da aprendizagem significativa" , formulando questões e problemas de uma maniera nova e não familiar, que requeira máxima transformação do conhecimento adquirido.

Tipos de Aprendizagem Significativa
  • Representacional - os símbolos passam a significar aquilo que seus referentes significam
  • de Conceitos - representam abstrações dos atributos essenciais dos referentes, representam regularidades em eventos ou objetos
  • Proposicional - aprender o significado que está além da soma dos significados das palavras ou conceitos que compõem a proposição
Assimilação
Segundo a " teoria da assimilação" ou ancoragem provalvelmente tem um efeito facilitador na retenção.

Fonte: http://rdefendi.sites.uol.com.br/ausubel/ausubel3.htm

ENSAIOS DE AUTORES CONTEMPORÂNEOS SOBRE A TEORIA DE AUSUBEL

lnicialmente, gostaríamos de salientar que não há nenhuma pretensão do grupo em querer teorizar ou tecer novas conjecturas a respeito da Teoria de Ausubel, inclusive para o qual nos consideramos totalmente inaptos, porém o de apresentar, baseado em pura pesquisa e analogia, a correlação de Ausubel com outros autores contemporâneos que partilham da sua mesma base de concepção pedagógica.

David Paul Ausubel estabeleceu em sua teoria: Aprendizagem significativa" uma metodologia, considerada avançada, de instrução; dentro deste enfoque Ausubel estabeleceu uma teorização psico cognitiva focada na interação de idéias, que se expressam até de forma considerada simbólica, porém não de maneira aleatória.

A sistemática de aprendizagem relaciona a informação diretamente com a estrutura básica de conhecimento do "aprendiz". Neste enfoque Ausubel a luz da conceituação americana do "subsumer" onde explicita sempre a inclusão de um agregador a um grupo ou sub grupo de aprendizagem como um "ente facilitador" do processo.

Ausubel trabalha na sua teoria com o processamento da informação enviada através de uma maneira dedutiva, aproximando-se das concepções contemporâneas de Alían Bloom, não só pela proximidade "laboratorial" que tiveram na New York University, como também pelo fato de ambos terem orientado as publicações didáticas da editora de livros Judaica Simon and Schuster, por algum tempo.

Ausubel todavia contrapõe-se a Jerome Brunner, que trata o processamento da informação, mas de maneira indutiva chocando tradicionalmente as teorias das escolas americanas de Harvard e de New York quanto ao sistema de aprendizagem psico cognitiva.

Deveríamos considerar que a Teoria de Ausubel não está afastada das considerações personalistas traçadas na Teoria de Rogers (inclusive na própria formatação teórica visto que Freud também as influencia); mas Ausubel estaria bem distante das considerações tecnológicas contidas no "approche sistêmico do ensinamento" contido em todo o bojo da Teoria de Skinner.

Contudo, estão nos trabalhos desenvolvidos por Piaget grande base da epistemologia genética que norteia toda a aprendizagem significativa que sustenta a Teoria de Ausubel, e enfaticamente pela própria formação acadêmica de Piaget é que se traduz a ênfase dada na aprendizagem mecânica estabelecida por Ausubel.

É evidente que os trabalhos desenvolvidos por Piaget na escola de Genebra, "fascinaram" Ausubel e permitiram a elaboração das teorias educativas construtivistas, e que criaram eco no universo prático da Educação estabelecido por ele mesmo dentro das suas experimentações desenvolvidas inclusive em sala de aula, onde se traduz toda a teorização epistêmica da praticidade estabelecida pela própria Teoria de David Paul Ausubel.

Ainda faz-se evidente salientar que a grande maioria dos pesquisadores americanos "importaram" as idéias de Piaget já no decorrer da década de 60, notadamente por FIavell, Sullivan, Sigel, mas também por outros. Kohlberg consagrou mais de 20 anos de pesquisa para descrever e demonstrar as várias etapas do desenvolvimento moral no indivíduo oriundo de toda a teorização e pensamento pia gentíno, ou seja, usando a mesma base: Piaget que é a fonte referencial para a Teoria de Ausubel.

Cabe destacar que as considerações de Piaget ditas como "preáveis’ são nada mais que os instrumentos das atividades resultantes da construção do conhecimento. Elas vieram se remodelando constantemente e os novos conhecimentos obtidos foram se reintegrando às estruturas pré existentes e sempre todo este ciclo deveria esta a disposição do "estudante". A Teoria de Ausubel ratificou e avançou nesta tônica e há mais de 20 anos está presente em toda a sua conceituação na ordem pedagógica.

Finalmente, a Teoria de Ausubel avançou no tempo já com outros pensadores e utilizando a mesma idéia dos seus pontos cognitivos, no final dos anos 1980 - Joseph Novak da Comeu University estabeleceu novos "elos" no plano pedagógico usando a mesma base psico cognitiva de David Paul Ausubel.

Helen Hanesian também estabeleceu novos derivativos da Teoria de Ausubel, haja visto que a 2a. edição do Livro: Educational Psychology: A Cognítíve View, foi editado conjuntamente por Ausubel, Novak e Hanesian pela Editora Rinehart and Winston em New York 1978.

Fonte: http://rdefendi.sites.uol.com.br/ausubel/ausubel3.htm

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Perspectivas curriculares para o desenvolvimento da leitura e da compreensão


De acordo com as investigações sobre a compreensão de textos escritos, esse processo resulta de um trabalho ativo do leitor, em oposição à idéia – muito difundida – de que, quase como uma mágica, o texto, por si mesmo, se gravaria na mente dos leitores.

Na realização desse trabalho ativo, ao que tudo indica, o leitor lança de mão de três principais conjuntos de saberes:

i.o conhecimento prévio e a habilidade de construí-lo, nas situações em que não se compreendem textos ou passagens de textos;

ii.as habilidades de fluência em leitura, por meio das quais o leitor processa com rapidez e adequação a informação gráfica ou visual;

iii.as estratégias e habilidades de compreensão leitora, por meio das quais o leitor busca alcançar os propósitos que o orientaram em direção ao texto (como, por exemplo, estudar, informar-se, buscar um dado específico, divertir-se, agir).

É, portanto, em torno da transmissão desses três conjuntos de saberes em que se pode apostar para a organização do ensino da leitura e da compreensão de textos.



O conhecimento prévio e as habilidades de construí-lo

No processo de produção de um texto, seu autor se orienta sempre por uma hipótese de leitor ou Leitor-Modelo (ECO, 1996). Trata-se de um conjunto de pressuposições sobre os conhecimentos, valores e propósitos dos leitores “em carne em osso” que irão se apropriar do texto. Com base nessas pressuposições, o produtor de um texto desenvolve suas escolhas lingüísticas, da seleção do vocabulário a decisões sobre a implicitação ou explicitação de informações.

Assim, para compreender um texto, o leitor deve possuir grande parte daquele conjunto de conhecimentos que um texto supõe que seus leitores possuam ou deve – como frequentemente ocorre – dominar as habilidades de construir esses conhecimentos, nas situações em que, por não possuí-los, não consegue compreender o texto ou entender trechos ou passagens dele.

Para um leitor em formação, trata-se não apenas de um aprendizado de conteúdos, mas de um processo de familiarização com todo um universo cultural em grande parte novo, que se organiza em torno de valores em parte específicos, bem como de modos em larga medida particulares de produzir significados, construídos com base em referências culturais às vezes mais, às vezes menos compartilhadas pelos alunos. Trata-se, assim, de um processo de imersão do aluno nesse universo cultural.

Apenas para fins de organização didático-pedagógica do ensino da leitura, vale à pena, em minha opinião, distinguir duas principais direções desse esforço de possibilitar a imersão do aluno nesse universo cultural em grande medida novo.

Primeiramente, esse universo cultural se organiza em torno da cultura escrita ou do letramento. Para poder compreender textos escritos, é fundamental conhecer outros textos, saber para que servem, poder antecipar os diferentes objetivos que buscam atingir, dominar os modos particulares de usar a língua que nesse universo se utiliza. Por essa razão e como defendi antes, uma primeira direção imprescindível para avançar no domínio da compreensão é experimentar esse mundo organizado em torno da cultura escrita, dele participando por meio de práticas de letramento (KLEIMAN, 2007; CHARTIER, CLESSE e HÉBRARD, 1996).

Como também defendi antes, essa direção deve ser buscada desde a educação infantil, deve ser enfatizada na alfabetização inicial e ao longo da escolarização. Esse ponto de vista se baseia no fato de que a familiaridade com as práticas de letramento é tanto uma condição para o domínio da língua escrita quanto para o desenvolvimento das aprendizagens escolares (o que é demonstrado por diferentes pesquisas– cf. por exemplo, HEATH, 1983; 1986; LAHIRE, 1993a, 1993b, 1997; BATISTA e RIBEIRO, 2004). Ela é também uma das mais importantes finalidades da escolarização: garantir a todos o direito uma plena inserção no mundo da cultura escrita.

Como essa direção se organiza, em grande parte, em torno de um processo de familiarização e de imersão, é a realização de práticas de leitura e escrita amplamente diversificadas que pode assegurar essa progressiva inserção no mundo das letras. Para seu planejamento desde a educação infantil, é importante que o professor leve em conta que cabe a ele atuar como mediador entre as crianças e o mundo da escrita e que, quanto menor é o grau de autonomia de seus alunos na leitura e na escrita, maior será seu papel como um modelo de leitor, capaz de dar um suporte ao aprendizado dos alunos, lendo e explicando textos em voz alta, apresentando como se planeja e se produz um texto, explicitando o modo de funcionamento dos textos que se leem, seus objetivos, suas condições de produção, seu modo de circulação, seus suportes, de modo a modelar o comportamento leitor de seus alunos.

Um bom modo de planejar essas práticas de letramento, tendo em vista a leitura, é levar em conta alguns dos elementos constituintes dessas práticas: os espaços de circulação de textos (por meio da visita a bibliotecas, livrarias, bancas de jornais, por exemplo); os suportes de textos (leitura e apresentação de diferentes suportes, como jornais, a tela do computador, o livro, folhetos, etc.); os gêneros (leitura e apresentação de textos de gêneros diversificados, como contos e novelas da literatura infanto-juvenil, poesias, notícias, reportagens, por exemplo); os propósitos que organizam a leitura (ler para se divertir, para agir, para buscar informações, para buscar dados, para o estudo e o conhecimento).

Na realização dessas práticas, também é imprescindível estar atento para a necessidade de discutir, com os alunos, valores e significados envolvidos nelas, como na longa negociação a respeito da função e do significado da língua escrita que – como descreve e analisa Sara Mourão Monteiro (2009) – uma professora estabelece com seus alunos para escrever uma autorização (a ser encaminhada aos pais) para uma visita a uma padaria: um dos alunos questiona a necessidade de escrita dessa autorização, afirmando valores que se baseiam, em grande parte, em culturas que se organizam fortemente na oralidade (e não na escrita ou no letramento).

La Responsabilidad Social empresarial

La Responsabilidad Social empresarial

La Responsabilidad Social empresarial está más allá de lo que la empresa debe hacer por obligación legal. El gran desafío es introducir los conceptos y criterios de responsabilidad social en la gestión estratégica de la empresa, lograr el éxito en las políticas de inclusión social y promoción del bienestar de su público interno y externo.

Las acciones se centraron en la ética y son guiadas por valores que van más allá de la dimensión de lucro, buscan el bienestar de la comunidad donde está situada la empresa, cuyos objetivos son compatibles con el desarrollo sostenible, preservando los recursos ambientales, respetando la diversidad y contribuyendo para la reducción de las desigualdades sociales.

Además, para fomentar la calidad de la vida dentro y fuera de la empresa como fomento del voluntariado, reflejan interna y externamente los beneficios de la responsabilidad social de las empresas ofrecidos a la comunidad.

Cuando se trata de la responsabilidad social de las empresas de la comunidad, este ejemplo puede verse en su sentido "amplio" o "estricto". Es decir, la comunidad puede ser el entorno local en el que la empresa se encuentra o la sociedad en su conjunto, de la que hace parte.

Aprendizagem significativa

Aprendizagem significativa

José Manuel Moran

Entrevista ao Portal Escola Conectada da Fundação Ayrton Senna, publicada em 01/08/2008 ESCOLA CONECTADA- O que a escola deve fazer para, formar o aluno em conhecimentos, habilidades, valores, atitudes, formas de pensar e atuar na sociedade através de uma aprendizagem que seja significativa?


MORAN- A escola precisa re-aprender a ser uma organização efetivamente significativa, inovadora, empreendedora. A escola é previsível demais, burocrática demais, pouco estimulante para os bons professores e alunos. Não há receitas fáceis, nem medidas simples. Mas essa escola está envelhecida nos seus métodos, procedimentos, currículos. A maioria das escolas e universidades se distanciam velozmente da sociedade, das demandas atuais. Sobrevivem porque são os espaços obrigatórios e legitimados pelo Estado. A maior parte do tempo freqüentamos as aulas porque somos obrigados, não por escolha real, por interesse, por motivação, por aproveitamento. As escolas conservadoras e deficientes atrasam o desenvolvimento da sociedade, retardam as mudanças.

A escola precisa partir de onde o aluno está, das suas preocupações, necessidades, curiosidades e construir um currículo que dialogue continuamente com a vida, com o cotidiano. Uma escola centrada efetivamente no aluno e não no conteúdo, que desperte curiosidade, interesse. Precisa de bons gestores e educadores, bem remunerados e formados em conhecimentos teóricos, em novas metodologias, no uso das tecnologias de comunicação mais modernas. Educadores que organizem mais atividades significativas do que aulas expositivas, que sejam efetivamente mediadores mais do que informadores. É uma mudança cultural complicada, porque os cursos de formação de professores estão, em geral, distantes tanto das novas metodologias como das tecnologias.

A escola precisa cada vez mais incorporar o humano, a afetividade, a ética, mas também as tecnologias de pesquisa e comunicação em tempo real. Mesmo compreendendo as dificuldades brasileiras, a escola que hoje não tem acesso à Internet está deixando de oferecer oportunidades importantes na preparação do aluno para o seu futuro e o do país.



ESCOLA CONECTADA- Como favorecer a aprendizagem significativa no contexto escolar?



MORAN- Partindo de situações concretas, de histórias, cases, vídeos, jogos, pesquisa, práticas e ir incorporando informações, reflexões, teoria a partir do concreto. Quanto menor é o aluno mais práticas precisam ser as situações para que ele as perceba como importantes para ele. Não podemos dar tudo pronto no processo de ensino e aprendizagem. Aprender exige envolver-se, pesquisar, ir atrás, produzir novas sínteses fruto de descobertas. O modelo de passar conteúdo e cobrar sua devolução é ridículo. Com tanta informação disponível, o importante para o educador é encontrar a ponte motivadora para que o aluno desperte e saia do estado passivo, de espectador. Aprender hoje é buscar, comparar, pesquisar, produzir, comunicar. Só a aprendizagem viva e motivadora ajuda a progredir. Hoje milhões de alunos passam de um ano para o outro sem pesquisar, sem gostar de ler, sem situações significativas vividas. Não guardam nada de interessante do que fizeram a maior parte do tempo. Há uma sensação de inutilidade em muitos conteúdos aprendidos só para livrar-se de tarefas obrigatórias. E isso chega até a universidade, tão atrasada ou mais ainda do que a educação básica.

É muito tênue o que fazemos em aula para facilitar a aceitação ou provocar a rejeição. É um conjunto de intenções, gestos, palavras, ações que são traduzidos pelos alunos como positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de participar de um processo grupal de aprendizagem, de uma aventura pedagógica (desejo de aprender) ou, pelo contrário, levantam barreiras, desconfianças, que desmobilizam.

O sucesso pedagógico depende também da capacidade de expressar competência intelectual, de mostrar que conhecemos de forma pessoal determinadas áreas do saber, que as relacionamos com os interesses dos alunos, que podemos aproximar a teoria da prática e a vivência da reflexão teórica.

A coerência entre o que o professor fala e o que faz, na vida é um fator importante para o sucesso pedagógico. Se um professor une a competência intelectual, a emocional e a ética causa um profundo impacto nos alunos. Estes estão muito atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A pessoa fala mais que as palavras. A junção da fala competente com a pessoa coerente é poderosa didaticamente.

As técnicas de comunicação também são importantes para o sucesso do professor. Um professor que fala bem, que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir o estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe jogar com as metáforas, o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem dúvida consegue bons resultados com os alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda , que traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de ensino-aprendizagem.



ESCOLA CONECTADA- Que tipo de aluno/cidadão a escola de hoje está formando com a aprendizagem desenvolvida nas nossas escolas?



MORAN- Estamos formando-na prática e em geral-alunos pouco competentes

intelectualmente, emocionalmente e eticamente.



Intelectualmente porque não desenvolvem o gosto pelo conhecimento, porque não vibram com os desafios, porque se sentem sufocados por mil obrigações incompreensíveis. A maioria não lê com prazer, não entende realmente textos mais complexos, não compara diferentes versões. Criamos pessoas acomodadas intelectualmente, que se contentam com o primeiro resultado de pesquisa no Google.



Emocionalmente o sistema é sufocante. Preocupa-se mais com a repetição do que com a criação, não enxerga a pessoa como um todo. Os alunos pouco se expressam, pouco produzem e pouco comunicam dos seus sentimentos, afetos; da sua vida. Se a preparação intelectual é falha, a emocional então é desastrosa. Quanto mais avançam os alunos em idade, menor é a preocupação da escola com o emocional, que é relegado à esfera pessoal.



A formação ética é também muito precária e difícil, porque precisa ser ensinada com o exemplo, numa sociedade onde todos os dias nos é mostrado que os bem sucedidos desprezam os valores éticos fundamentais.Ao preocupar-nos mais-e mal-com o intelectual, deixando de lado as outras dimensões formativas, estamos preparando alunos individualistas, consumistas, interessados na sobrevivência econômica, com pouca solidariedade e contato entre os diversos grupos sociais, principalmente as elites, que se encastelam em escolas próximas dos condomínios fechados, de costas para a grande maioria dos cidadãos. É um crime termos escolas (e não são poucas) que se organizam para reforçar a exclusão, que se fecham em guetos, mantendo os alunos distantes da realidade social.





ESCOLA CONECTADA- Que propostas você teria para reorganização do currículo que se encontra desconectado das experiências dos alunos, tornando-o significativo, relacionando-o às experiências e vivências pessoais dos alunos?



MORAN- O ideal é trabalhar com projetos significativos que integrem várias áreas de conhecimento, sem disciplinas estanques, sem horários de cinqüenta minutos para cada uma. Como isso é complicado, na prática, para a maioria das escolas, podemos articular melhor algumas grandes atividades ou projetos em cada semestre, que integrem algumas dimensões dos conteúdos de cada disciplina e preocupar-nos com que cada educador foque muito mais a vivência, a experiência, a reflexão a partir de situações lúdicas, de histórias, de contatos efetivos com as múltiplas realidades de hoje. Se os alunos não percebem que tudo está interligado e que cada tema, assunto se relaciona com o restante, o currículo continuará uma colcha de retalhos, um mosaico fragmentado e sem sentido. Se o currículo continuar organizado por disciplinas, é fundamental que cada uma seja estimulante, atraente e esteja articulada com as demais. O aluno tem que perceber essa ligação continuamente, o que não acontece atualmente. Fazendo menos tarefas e mais atividades integradoras significativas podemos contribuir para que haja uma maior integração curricular.



Olhando para os próximos anos, os currículos serão muito mais flexíveis e personalizados. Teremos, em geral, menos disciplinas obrigatórias e alguns eixos temáticos principais, sem um único modelo, imposto da mesma forma e simultaneamente para todos. Algumas áreas serão privilegiadas - como saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar - e depois serão oferecidas alternativas diferentes de avançar na formação. Haverá atividades individuais e atividades colaborativas, em que os alunos pesquisem e desenvolvam projetos em grupo e aprendam através de interação, da participação e da produção conjunta. Os alunos terão mais liberdade para a escolha de atividades artísticas, cuja importância será muito maior do que hoje. Cada aluno irá construindo um percurso em grande parte comum, mas adaptado a si mesmo, personalizado, a partir de um diálogo permanente com seu professor-orientador e muitos alunos estudarão em casa, conectados e só participarão de alguns processos de avaliação externa para certificação.

A educação escolar será muito mais voltada para a prática, para a pesquisa, para projetos, para atividades integradas semi-presenciais. Dará menos ênfase ao conteúdo; será mais rápida (módulos mais curtos) não organizada em disciplinas e sim em grandes temas e questões, com abordagem cada vez mais interdisciplinar e complexa. Focará mais o desenvolvimento de projetos, de pesquisas, jogos, de aprender juntos e também individualmente.





ESCOLA CONECTADA- Uma aprendizagem significativa está relacionada à possibilidade dos alunos aprenderem por múltiplos caminhos de forma colaborativa, permitindo o desenvolvimento de competências e habilidades. Nesse contexto, como tornar a sala de aula um espaço de aprendizagem significativa?



MORAN- Um dos momentos pessoais chave para eu entender as mudanças na educação aconteceu em um curso intensivo que dei em um colégio particular de Curitiba. Os professores do ensino médio criticavam como era difícil dar aula para adolescentes desmotivados, dispersivos, barulhentos, indisciplinados. Uma professora de português deu um depoimento diferente. Segundo ela, não tinha problemas maiores com esses mesmos alunos. E ela detalhou o seu método de trabalho.



1)"Eu gosto dos meus alunos e me preparo positivamente para as aulas". Gostar dos alunos, gostar deles como são, com as dificuldades que trazem, com o jeito que se vestem, falam e escrevem. Gostar deles: é óbvio, mas fundamental para obter sucesso pedagógico. Muitos professores parece que não apreciam os alunos, sentem-se distantes deles, só os criticam e se preparam para a aula como para uma guerra e, evidentemente, ela acontece.



2)"Procuro surpreendê-los sempre".

Crianças e jovens gostam de novidades, de sair da rotina. A professora dizia que os alunos aguardavam sempre por alguma surpresa. Às vezes era de caráter pedagógico: um vídeo diferente, uma nova dinâmica. Outras era simplesmente uma peça de vestuário, um chapéu, algo que tivesse relação com a aula. As aulas são diferentes umas das outras. Utiliza bastantes tecnologias de ilustração como vídeos, CDs, DVDs, pesquisa na Internet. Todo educador precisa surpreender e cativar seus alunos sempre.



3)"Faço os acordos possíveis para as atividades, pesquisas e forma de apresentação".

A professora procura negociar com os alunos os sub-temas de uma pesquisa, a forma de apresentá-los e de divulgá-los. Os alunos fazem suas propostas e chegam a um acordo com a professora. Uns preparam um vídeo, outros um CD, outros desenvolvem uma peça de teatro. Acontece sempre um grande evento no fim do semestre para ampliar a repercussão dos trabalhos. Os alunos se sentem valorizados, levados em consideração e correspondem participando com entusiasmo.

Na educação o mais importante não é utilizar grandes recursos, mas desenvolver atitudes de comunicação e afetivas favoráveis e algumas estratégias de negociação com os alunos, chegar a consensos sobre as atividades de pesquisa e a forma de apresentá-las para a classe. Por que, se isso parece tão simples, os colegas dessa professora se queixavam tanto dos mesmos alunos que com ela colaboravam?.



Hoje, o professor, em qualquer curso presencial, precisa aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora, pois antes ele só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora, continua com os estudantes no laboratório (organizando pesquisas, produzindo novos materiais), na Internet (atividades a distância) e no acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aprendiz à realidade, à sua profissão (ponto entre a teoria e a prática)-e tudo isso fazendo parte da carga horária da sua disciplina, estando visível na grade curricular, flexibilizando o tempo de estada em aula e incrementando outros espaços e tempos de aprendizagem.



Educar com qualidade implica em organizar e gerenciar atividades didáticas em, pelo menos, quatro espaços.



1) Reorganização dos ambientes presenciais

A sala de aula como ambiente presencial tradicional precisa ser redefinida. É um espaço para algumas informações, para debate, para organização de projetos, para mostrar seus resultados.

As salas de aula podem tornar-se espaços de pesquisa, de desenvolvimento de projetos, de intercomunicação on-line, de publicação, com a vantagem de combinar o melhor do presencial e do virtual no mesmo espaço e ao mesmo tempo. Pesquisar de todas as formas, utilizando todas as mídias, todas as fontes, todas as maneiras de interação. Pesquisar às vezes todos juntos, outras em pequenos grupos, outras individualmente. Pesquisar na escola; outras, em diversos espaços e tempos. Combinar pesquisa presencial e virtual. Relacionar os resultados, compará-los, contextualizá-los, aprofundá-los, sintetizá-los.



2) Aprendizagem em ambientes digitais

Há três campos importantes para as atividades em ambientes digitais: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção-divulgação. Pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. Comunicação, realizando debates off e on-line sobre esses temas e experiências pesquisados. Produção, divulgando os resultados no formato multimídia, hipertextual,"linkada" e publicando os resultados para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso.

O professor precisa hoje adquirir a competência da gestão dos tempos a distância combinados com o presencial. O que vale a pena fazer pela Internet que ajuda a melhorar a aprendizagem, que mantém a motivação, que traz novas experiências para a classe, que enriquece o repertório do grupo.



Estes ambientes virtuais incorporam cada vez mais recursos de comunicação em tempo real e off line, de publicação de materiais impressos, vídeos, etc. Recursos de edição on-line: professores e alunos podem compartilhar idéias, modificar textos, comentá-los. Podem fazer discussões organizadas por tópicos (off line) e fazer discussões ao vivo, com som, imagem e texto. Os ambientes de aprendizagem se integram aos programas de gestão acadêmica e financeira. Com a mesma senha os alunos acessam seu histórico escolar, seus pagamentos, seus cursos. Tudo se integra cada vez mais; tudo fala com tudo e com todos.



3) Aprendizagem em ambientes experimentais, profissionais e culturais

A escola pode estender-se fisicamente até os limites da cidade e virtualmente até os limites do universo. A escola pode integrar os espaços significativos da cidade: museus, centros culturais, cinemas, teatros, parques, praças, ateliês, centros esportivos, centros comerciais, centros produtivos, entre outros. A escola pode trazer as manifestações culturais e artísticas próximas, fazendo dos alunos espectadores críticos e produtores de novos significados e produtos. Inserir atividades teóricas com as práticas, a ação com a reflexão. Trazer pessoas com diversas competências para a escola mostra novas possibilidades vocacionais para os alunos.

Os alunos precisam ser incentivados a desenvolver projetos concretos de conhecimento e mudança do bairro, da cidade e de ampliação do contato com projetos de outras escolas, de outras instituições dentro e fora do nosso país.

O laboratório pode ser um espaço importante de integração entre as atividades presenciais e as virtuais, entre o mundo concreto e o abstrato, entre a teoria e a prática.



Se os alunos fazem pontes entre o que aprendem intelectualmente e as situações reais, experimentais, profissionais ligadas aos seus estudos, a aprendizagem será mais significativa, viva, enriquecedora.



ESCOLA CONECTADA- Na sua opinião, que desafios são encontrados numa educação comprometida com a aprendizagem significativa?



MORAN- Estamos caminhando para uma nova fase de convergência e integração das mídias: Tudo começa a integrar-se com tudo, a falar com tudo e com todos. Tudo pode ser divulgado em alguma mídia. Todos podem ser produtores e consumidores de informação. A digitalização traz a multiplicação de possibilidades de escolha, de interação. A mobilidade e a virtualização nos libertam dos espaços e tempos rígidos, previsíveis, determinados. O mundo físico se reproduz em plataformas digitais e todos os serviços começam a poder ser realizados física ou virtualmente. Há um diálogo crescente, muito novo e rico entre o mundo físico e o chamado mundo digital, com suas múltiplas atividades de pesquisa, lazer, de relacionamento e outros serviços e possibilidades de integração entre ambos, que impactam profundamente a educação escolar e as formas de ensinar e aprender a que estamos habituados.



As mudanças que estão acontecendo na sociedade, mediadas pelas tecnologias em rede, são de tal magnitude que implicam- a médio prazo - em reinventar a educação como um todo, em todos os níveis e de todas as formas

Escolas não conectadas são escolas incompletas (mesmo quando didaticamente avançadas). Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível on-line, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais; da participação em comunidades de interesse, nos debates e publicações on-line, em fim, da variada oferta de serviços digitais.

Quanto mais distante a escola se encontra das grandes cidades, mais dramática costuma ser a exclusão digital. Hoje não basta ter um laboratório na escola (quando existe) para acesso pontual à rede durante algumas aulas. Hoje todos os alunos, professores e comunidade escolar, precisam de acesso contínuo a todos estes serviços digitais para estarmos dentro da sociedade da informação e do conhecimento.

Outro desafio importante é atrair profissionais competentes para a educação. Profissionais (educadores, gestores) bem preparados, remunerados e atualizados são fundamentais para uma educação inovadora. Muitos estudantes que gostariam de lecionar desistem diante dos salários baixos e das condições atuais de trabalho. Os melhores alunos deveriam ser incentivados para serem professores. Não é o que acontece, atualmente.





ESCOLA CONECTADA- Que estratégias devem ser trabalhadas pelo professor para centrar sua ação educativa numa aprendizagem significativa?



MORAN- Numa sociedade mais complexa, com mais informações disponíveis, o professor precisa ser muito mais criativo nas suas propostas, atividades, mediação. A melhor estratégia é a da auto-motivação. Professor motivado motiva os alunos. Professor que mostra entusiasmo pelo que fala, pelo conhecimento, contagia os alunos. Professor desanimado, desanima. Professor muito rico de vivências, leituras, práticas, recursos encontra estratégias diferentes de orientar alunos e turmas diferentes.



A comunicação aberta, acolhedora é fundamental para o sucesso pedagógico. O acolhimento afetivo é condição fundamental de aprendizagem significativa, integral. Aprendi muito com alguns educadores abertos, acolhedores, competentes e confiáveis e que me traziam mais desafios do que soluções; que me incentivavam a continuar buscando, mais do que trazer respostas prontas.



Alguns recursos são importantes; utilizar situações do cotidiano (filmes, histórias, poesia, arte....). Fazer a ponte com o que acontece no dia a dia, com situações marcantes na mídia. Se tratamos temas mais abstratos, encontrar sua aplicabilidade, sua utilidade hoje, não só no futuro. Hoje, com a Web 2.0, com tantos recursos gratuitos, como blogs, wikis (escrita pode colaborativa), com as câmeras digitais e a facilidade de publicar textos, vídeos e falas, o professor pode enriquecer as atividades negociadas com os alunos de forma muito mais diversificada e interessante. Ensinar e aprender hoje pode transformar-se em um estimulante e fantástico desafio, que nos realiza profissional e pessoalmente.

Texto disponível em www.eca.usp.br/prof/moran, no blog Educação humanista inovadora e em


http://www.escola2000.org.br/comunique/entrevistas/ver_ent.aspx?id=47